Pior que o crack, que a maconha, que a cachaça, que a cocaína, que a cola ...
Não é só o efeito do entorpecente que aliena o individuo da realidade - há formas de ver o mundo que parecem ter o efeito de uma droga, deixando a pessoa fora de si, sem senso crítico, com mente obnubilada e sem o velho semancol – vivendo no mundo da lua. Isso passou por minha cabeça quando terminei de ler um comunicado, há alguns meses, enviado pelo Coren-PE.
Informava, o Coren-PE, que por “zelar pelo exercício profissional”, faria“um levantamento estatístico quantitativo com o objetivo de avaliar a dimensão do uso indevido de drogas dentre os exercentes de enfermagem e seus familiares”.O resultado da pesquisa serviria para o Coren-PE apresentar “estratégias de ações voltadas para a assistência especializada aos usuários de substâncias psicoativas tanto quanto a seus familiares”. Pronto, um grande factoide estava armado!
Trabalho na Enfermagem há 20 anos - comecei no Hospital Santo Amaro – da Santa Casa de Misericórdia. Quando li sobre a iniciativa da atual gestão do Coren-PE, fechei os olhos e tentei lembrar com quantos drogados ou dependentes químicos eu havia trabalhado... Em todo lugar sempre há os que consomem a droga lícita do álcool – de forma moderada ou em excesso. Mas nunca trabalhei com algum companheiro que fosse ao plantão sob o efeito etílico, com alguém que houvesse se excedido na cana, na cerveja ou no whisky e corresse para o plantão. Forcei a memória, mais ainda, e não me lembrei de companheiros dependentes de droga ilícita, como maconha, cocaína, cola ou qualquer outra porcaria dessas. Não que na Enfermagem não existam dependentes desse tipo de produto, só que nunca trabalhei com algum nos meus plantões. Veio-me, então, a seguinte pergunta: será a droga, lícita ou ilícita, a grande miséria da Enfermagem?
Como disse, em 20 anos de trabalho nunca dei plantão, com todo respeito, com maconheiro, com cocainomaníaco, com cheirador de cola ou tomador de cana inveterado. Por outro lado, cansei de trabalhar com quem tinha depressão, ansiedade ou LER/DORT por ter laborado em condição antiergonômica por muito tempo – sem falar nos que foram acometidos por outras tantas doenças do trabalho. Também trabalhei com diversos companheiros vítimas de acidentes de trabalho e de violência no trabalho. E cansei de trabalhar em ambientes sem a menor proteção para enfrentar os riscos biológicos, químicos, físicos e mecânicos.
Se a atual gestão do Coren-PE tivesse mesmo o ânimo de “zelar pela Enfermagem”, como quer fazer crer, faria uma grande campanha por melhores condições de trabalho para os profissionais de Enfermagem. E iria, nos locais de trabalho, fiscalizar e autuar gestor que faz do profissional de Enfermagem uma peça de reposição, que suga todo o seu vigor e depois se livra dele, como bagaço, deixando-o, muitas vezes, até incapacitado para arrumar outro trabalho e sem saúde. A droga que tem acabado com o profissional de Enfermagem, e destroçado sua família, é a droga da condição precária, nojenta e odiosa de trabalho; é a droga do excesso de trabalho, sobrecarga de pacientes e o número reduzido de profissionais por setor; é a droga da omissão da atual gestão do Coren-PE em fazer cumprir, de forma intransigente e determinada, o Código de Ética da Enfermagem! E essa droga, mata!
O Huoc é exemplo vivo da forma omissa de o Coren-PE atuar. Segundo o próprio Conselho, há, naquele hospital, 738 profissionais de Enfermagem – entre auxiliares, técnicos e enfermeiros. E, segundo o Coren-PE, há um déficit de 920 (novecentos e vinte) profissionais! O Huoc deveria funcionar com 1.658 profissionais de Enfermagem, mas funciona com 738. Ora, déficit de pessoal de mais de 100% - para ser mais exato, déficit de 124,66%! O que acham disso? O resultado dessa falta de profissionais de Enfermagem é sentida, cotidianamente, por quem dá seu plantão. Um profissional de Enfermagem trabalha por dois! Se o trabalho de um já é penoso, avalie trabalhar por dois. Mas mesmo o Coren-PE tendo feito a constatação de um déficit de 124,66% do pessoal de Enfermagem, não há, ao menos, uma censura ética a quem promove uma desgraça dessa. Um ambiente de trabalho que se organiza com 738 profissionais – quando deveria ter 1.658, é um matadouro de trabalhador. Mata, aos poucos, todo dia, física e espiritualmente – porque é inumano trabalhar em condição assim. E quem deve zelar pela dignidade no exercício da profissão, omite-se politicamente. O Huoc é só um exemplo, pois essa é a realidade em todos os hospitais da rede pública.
É por essa e outras que o Sindupe e mais seis entidades, entre associações, sindicatos e federações decidiu dar apoio ao grupo UM COREN PARA TODOS – INTEGRAR E AVANÇAR. Esse arco político se forma para dar à Enfermagem a combatividade que ela precisa ter. Coren, sindicatos, associações e federação, juntos, podem mudar as condições de trabalho da Enfermagem em Pernambuco. Esse é o nosso compromisso! Pense bem e avalie quem merece seu voto no dia 11 de setembro.
P.S– Nessa eleição muita gente tem perdido tempo discutindo, de forma induzida, questões secundárias e, muitas vezes, irrelevantes. A turma da omissão tem feito mil acrobacias para que o principal não seja discutido. Fique atento!
P.S 2 – Por exemplo, para desqualificar nossa candidata, a Simone, dizem que ela participou de 15 anos de gestão do Coren – no tempo em que a Julita era presidente. Sempre associam seu nome ao de Julita como forma de depreciá-las. Não sei precisar se o tempo exato foi esse, 15 anos, mas participou mesmo. E há algum crime nisso? A Julita era, ou é, alguma bandida? Roubou o Coren? Teve conta impugnada pelo TCU? É a Julita que tem algum tipo de relação com o bandido que está preso em Bangu I? Seria Julita uma sarna? Saiu do Coren por fadiga política – o que é natural. E até onde sabemos, não há nada que desabone sua conduta. Mas o que impressiona, nesse argumento besta e escroto, é a negação da história da atual presidente do Coren-PE – que tem 12 anos de gestão e trabalhou com a Julita também. Usam um argumento para atacar a oposição e escondem o mesmo argumento para defender a situação. Ter trabalhado com a Julita e ter passado pelo Coren não deve ser matéria para condenar ninguém – nem situação, nem oposição. O que definiu nosso voto foi perceber que a atual gestão é incompetente e avessa à possibilidade de fazer com que o Código de Ética da Enfermagem seja defendido de maneira intransigente. Por outro lado, avaliamos que o UM COREN PARA TODOS – INTEGRAR E AVANÇAR tem toda determinação de fazer cumprir o Código de Ética. E isso é um compromisso de campanha que vai ser cobrado pelas sete entidades. Quem faz campanha como a chapaUM COREN PARA TODOS – INTEGRAR E AVANÇAR faz, colocando em primeiro lugar a aproximação com associações, sindicatos, federação e sociedade, só pode estar mais preparada para fazer uma gestão combativa e voltada aos verdadeiros anseios do profissional de Enfermagem.
Gleidson Ferreira é Auxiliar de Enfermagem, preside o Sindupe e não se conforma em ver o Coren ser usado como instrumento de alienação da categoria. Por isso vota na chapa UM COREN PARA TODOS – INTEGRAR E AVANÇAR.